3/01/2006

Porque sou contra o TERRORISMO


Este texto foi extraído do livro “ A manipulação dos media, os efeitos extraordinários da propaganda “ de Noam Chomsky.

( Confesso que me apetecia transcrever o livro todo e, talvez o venha a fazer um dia. )

Parada de Inimigos

Em vez de falar sobre a última guerra, deixem-me discorrer sobre a próxima guerra, porque às vezes é útil que as pessoas estejam preparadas, em vez de se limitarem a reagir. Actualmente, encontra-se em curso nos Estados Unidos uma evolução muito característica. Não é o primeiro país do mundo em que isso acontece. Na realidade, existem problemas sociais e económicos cada vez maiores, talvez catastróficos. Ninguém instalado no poder tem qualquer intenção de fazer seja o que for a respeito desses problemas. Se se olhar para os programas de política interna dos governos dos últimos dez anos - e incluo aqui a oposição Democrática – não se encontra realmente qualquer proposta séria quanto ao que se deve fazer relativamente aos graves problemas da Saúde, da Educação, dos sem-abrigo, dos desempregados, do Crime, do aumento do número de delinquentes, das cadeias, da deterioração das cidades interiores – toda a espécie de problemas. Todos os conhecem e estão cada vez piores. Só nos dois primeiros anos de mandato de George Bush pai, mais três milhões de crianças ultrapassaram o limite de pobreza, a dívida subiu rapidamente, os padrões de educação entraram em declínio para grande parte da população, os salários reais caíram abaixo do nível em que se encontravam no fim dos anos 50, e ninguém faz seja o que for a respeito de todos estes problemas. Nestas circunstâncias, é preciso distrair o rebanho tolo, pois é ele que vai sofrer. É capaz de não ser suficiente tê-lo só a ver jogos da Super Bowl ou séries de televisão. É preciso fazê-lo recear inimigos. Nos anos 30, Hitler assustou-o com os judeus e os ciganos. Disse-se-lhe que era preciso esmagar esses inimigos para se defenderem. Também neste caso temos duas possibilidades. Nos últimos dez anos, todos os anos, ou de dois em dois anos, cria-se um qualquer monstro de que é preciso as pessoas defenderem-se. Era costume haver sempre um disponível: os russos. Todavia, os russos foram perdendo atractivo como inimigo e cada vez é mais difícil usá-los, por isso tiveram que se arranjar alguns inimigos novos. Com efeito, as pessoas têm criticado injustamente George Bush por não ser capaz de exprimir ou articular o que é que na realidade nos atormenta hoje. É muito injusto. Até cerca de meados dos anos 80, quando as pessoas estavam apáticas, bastava tocar o disco “ Vêm aí os russos “. Bush, porém, ficou sem ele e foi preciso inventar novos inimigos, precisamente como fez na década de 80 o aparelho de relações públicas de Reagan. Apareceram, assim os terroristas internacionais, os narcotraficantes, os árabes loucos e Saddam Hussein, o novo Hitler, em vias de conquistar o mundo. Conseguiu-se traze-los uns atrás dos outros. As pessoas foram assustadas, aterrorizadas, intimidadas, de modo que tinham demasiado medo para viajar e escondiam-se com receio. Depois, consegue-se uma brilhante vitória sobre Granada, Panamá ou alguns outros exércitos indefesos do terceiro-mundo, que podem ser pulverizados antes mesmo de se ter o trabalho de olhar para eles – que foi precisamente o que aconteceu. Isto tranquiliza. Fomos salvos no último minuto. Esta é uma das maneiras pela qual se pode evitar que o rebanho tolo preste atenção ao que realmente está a passar-se à sua volta e se mantenha distraído e sob controlo. O próximo da lista, muito provavelmente, será Cuba *. Isto exige a continuação da ilegal guerra económica, possivelmente um reflorescimento do terrorismo internacional. No entanto, a maior operação de terrorismo internacional organizado foi a Operação Moongoose, e o que se lhe seguiu, montada pelo governo de Kennedy contra Cuba. Não há nada remotamente comparável com isto, excepto, talvez, a guerra contra a Nicarágua, se a isso se chamar terrorismo. O Tribunal Mundial classifica essa guerra mais como agressão do que outra coisa. Há sempre uma ofensiva ideológica que constrói um monstro quimérico e depois campanhas para o esmagar. Não se pode lá ir se o monstro puder ripostar. Seria muito perigoso. Mas se se tiver a certeza de que o monstro será esmagado, então talvez se possa derrubar esse e soltar outro suspiro de alívio.

* Eu diria antes Irão, mas considero que pode ser ele a ter razão.

7 Mordidelas:

Blogger rafaela said...

bom dia, não quero estar aqui a fazer o papel de advogada do diabo nem nada que se pareça, acho que o texto é inatacável, mas quero deixar uma questão.
Todos gostamos de viver confortáveis, de fazer a revolução bem alimentados, certo?
Só quando estivermos prontos a abdicar de tudo o que temos, da vida com a facilidades que para nos são normais é que poderemos fazer alguma coisa, até lá!

*

01 março, 2006 11:09  
Anonymous Anónimo said...

grande Noam Compsky, e fica mais um Lince-alerta, na próxima guerra será k teremos um país que mostra o cuzinho mediocree acobardado mais uma vez, dizendo amem ao "in God's name" do sr. bush. pelo andar da carruagem acho mesmo k sim, e o povo continua calado, cada vez mais calado.
Até quando?

01 março, 2006 13:34  
Blogger Mac Adame said...

É Cuba, sim. Mas só por um motivo: é que Fidel Castro já não se aguenta muito mais tempo. É pena, pois com Fidel não brincava Bush. Com a morte de Fidel, não haverá mais ninguém para segurar aquilo. Transformar-se-á em mais uma colónia norte-americana. Infelizmente.

01 março, 2006 22:37  
Blogger lince said...

Spartakus talvez tenhas razão, mas também Hitler foi de vitória em vitória, até ao erro fatal naquele Inverno. Esperemos que o Bush não saiba muito de história. Abraço.

Silmara obrigado pela visita que os dias te possam trazer a luz da felicidade.

Rafaela eu até concordo que uma barriga vazia facilita a revolução. Mas será que faltarão muitas mais barrigas vazias para que ela se dê? E já agora não podemos ignorar que cabeças bem desenvolvidas também são capazes de se revoltar abdicando do conforto que desfrutam, movidas pala consciência que depois da revolução muitas mais desfrutarão.

Pantera cada comentário teu revela afinidades entre nós que vão para além da nossa condição de felinos. Obrigado e volta sempre.

Companheiro macaco, eu acho que na Cuba pós Fidel eles vão utilizar uma táctica diferente. Eles vão tomar o poder através dos dissidentes. Isto vai criar um estado de euforia é verdade, mas o estado de medo e terror não pode desaparecer da cabeça do povo americano. Por isso só lhes resta criarem uma nova guerrinha que esta já está gasta. E eu acredito que eles se julguem capazes de vencer o Irão. Grande abraço companheiro.

Obrigado a todos.

02 março, 2006 01:16  
Blogger rafaela said...

Lince também acho mas quantos mais acharão que já ha genta a mais com fome, quantos serão capazes de abdicar do seu conforto em prol dos outros, em prol da verdade? de certeza que não serão assim tantos!
Porque essas cabeças bem desenvolvidas ainda são uma minoria.
Mas sem pessimismos o caminho é a informação, a informação sem mascaras, sem meias medidas e rodeios. Todos têm de saber com quem é que estão a lidar.

02 março, 2006 11:29  
Blogger Joana said...

Lince,

"Em vez de falar sobre a última guerra, deixem-me discorrer sobre a próxima guerra, porque às vezes é útil que as pessoas estejam preparadas, em vez de se limitarem a reagir."

Este inicio do texto fez-me lembrar a urgência que temos em começar a estar preparados para o que vem, é como as cáries dos dentes, se o sistema fosse preventivo, havia pessoas com mais dentes saudáveis e com mais dentinhos na boca também! :)

Infelizmente as pessoas que talvez fossem capazes de agir de outra forma se estivessem a governar os países e o mundo, não estão para se chatear!

Fica aqui a lembrança - Aviso!

Obrigada pelas tuas palavras.

Beijo

02 março, 2006 22:01  
Blogger lince said...

Rafaela e Joana obrigado pela vossa visita e comentários.
Gostava de vos citar Harold Pinter, galardoado com o Prémio Nobel da literatura no ano passado.
Harold Pinter foi o segundo dramaturgo a receber este prémio, depois de Dario Fo o ter conseguido em 1997.
Harold Pinter não pode ir receber o prémio pessoalmente por se encontrar internado tentando contrariar a vontade de um cancro e por isso enviou um vídeo com um depoimento que muito abalou não só a Academia Sueca mas também uma grande parte das sociedades ditas democráticas cá do Ocidente. Nesse depoimento Harold Pinter atacou veemente a política externa dos Estados Unidos. Depois de ter enumerado múltiplas situações de terrorismo de estado, múltiplos crimes cometidos contra a Humanidade pelos Estados Unidos e seus aliados Pinter terminou esse seu depoimento gravado no próprio hospital, propondo que George W. Bush e Tony Blair sejam acusados perante o Tribunal Internacional de Justiça.
No extracto que vos quero citar ele diz, “ só com uma determinação intelectual feroz, estóica, inquebrantável se pode romper a teia de mentiras que nos envolve a todos “.

Pexeseco uma pergunta também para ti: o mesmo Harold Pinter disse, “ centenas de milhares de pessoas foram mortas. Mas é como se ninguém o soubesse. Nunca nada aconteceu. Mesmo quando estava a acontecer, não aconteceu. Não tinha importância. Não tinha interesse “. Agora a pergunta: será ele um terrorista?... serei também eu um terrorista?...
Obrigado pela visita e espero que voltes mais vezes.

A todos os outros muito obrigado pela vossa companhia.

03 março, 2006 01:39  

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