Porque faz 112 anos que ele nasceu…
"Biografia: Mao visto por autora do ‘best seller’ ‘Cisnes Selvagens’Vida secreta do último imperador vermelho"
" Mao Tse-tung, que durante quatro décadas deteve o poder absoluto sobre as vidas de um quarto da população mundial, foi responsável por bem mais de 70 milhões de mortes em tempo de paz, mais do que qualquer outro líder do século XX. "
" É desta forma que começa a extensa biografia inédita sobre o líder comunista chinês. Escrita a meias por Jung Chang – autora de ‘Cisnes Selvagens’ – e o marido, o historiador Jon Halliday, em ‘Mao, A História Desconhecida’ desfilam cenários de horror que pautaram a China comunista.
O objectivo desta biografia é desenterrar verdades esquecidas: “Não pretendemos mudar o mundo, apenas revelar quem, realmente, era Mao”, confessa Jung Chang à Domingo.
Durante 12 anos os autores recolheram material para conseguirem fazer esta obra. Destacam-se depoimentos de diversas figuras, entre as quais George Bush (pai), Henry Kissinger, Gerald Ford, Edward Heath, Imelda Marcos, o presidente Mobutu e o Dalai Lama: “Foram recolhas interessantes, sobretudo a do Dalai Lama que conheceu Mao nos anos 50 e com ele privou. Forneceu-nos diversas pistas sobre a sua personalidade”, revela a autora.
Mao Tse-Tung nasceu a 23 de Dezembro de 1893 no seio de uma família de camponeses, no vale Shaosan, situado na província de Huan, no coração da China. É o primogénito de três rapazes. Teve dois irmãos que nasceram antes dele mas que morreram precocemente.
Por influência da mãe dedicou-se ao budismo até à adolescência, época em que abandonou as convicções religiosas.
Aos 14 anos casou com uma prima mais velha. O casamento durou um ano porque a mulher morreu, mas ao longo da vida nunca mencionou a viuvez precoce. Voltou a casar outras vezes e o seu fascínio por mulheres era sobejamente conhecido, tanto que manteve um verdadeiro harém: “Ele mantinha um império de concubinas e quando se fartava, transformava-as em escravas”, realça a autora.
Mao adorava a mãe e detestava o pai. No entanto, recusou-se a acompanhar a mãe no leito de morte, em 1919, alegando que queria preservar imagens felizes na memória. Jung Chang explica: “Em primeiro lugar estava ele, depois vinha a família. Mao arruinou a vida de quase toda a família, provocou inclusivamente a morte de ex-mulheres e de filhos.” Mais do que episódios familiares de profundo horror, os autores defendem que Mao acolheu a invasão da China pelo Japão para que os japoneses pudessem destruir Chiang Kai-Shek. Ou que exportou intencionalmente entre 1958 e 1961 alimentos para a Rússia em troca de tecnologia militar, provocando a morte – por fome – de 38 milhões de chineses. Outro aspecto focado nesta longa viagem ao passado é o facto de, durante a Revolução Cultural, a Guarda Vermelha de Mao ter perseguido e torturado milhares de professores, escritores e membros do Partido Comunista: “Ele destruiu a cultura chinesa”, adverte a autora.Esta obra está dividida em seis partes abragendo um total de 58 capítulos e uma série de mapas da China e de fotografias de época reveladoras de episódios marcantes. Um dos momentos peculiares acontece quando os autores desmistificam a longa marcha de 9000 quilómetros do Exército Vermelho, quando estes fugiam dos soldados nacionalistas de Chiang Kai-Shek. Dos 80 mil soldados iniciais sobreviveram apenas quatro mil. A maior parte foi acusada de traição, esfaqueados pelos companheiros ou atirados a uma vala comum. Quando as valas estavam cheias, antes de serem assassinados, os soldados eram obrigados a escavar a sua cova. Os autores vão mais longe ao acusar o séquito de Mao de fabricar detalhes e imaginar episódios sobre esta marcha apenas para enaltecer o papel do líder. “Tivemos muito trabalho mas o Mao foi um desafio intenso”, remata Jung Chang. "
“Texto retirado da revista domingo do Correio da Manha de 27-11-2005”
Será todo e qualquer caminho valido?
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