6/12/2005

Por momentos julguei-me em Africa!...

Acordei mais cedo de que é costume. E num acto de madrugador, olhei pela janela do quarto. O dia estava já quente apesar de ainda ser manhã acabada de despertar.
O puto negro da cadeira de rodas descia a rua, com certeza que o iria voltar a encontrar, como era habitual aos domingos de manhã, pedindo na esquina de sempre, quando me deslocasse à praça para tomar o meu café matinal lá estaria ele, nunca faltava.
O puto não levava as pernas porque as tinha perdido. O pai não o acompanhava, talvez por ter sido assassinado. Quanto à mãe… coitada, está presa, por prostituição!
Por momentos, julguei-me em Africa.
Não fosse, eu saber, que aquele puto perdeu as pernas não numa mina, mas ao atravessar uma passagem de nível com guarda, mas em que o guarda havia adormecido.
O pai… foi assassinado, sim! Mas não por um qualquer grupo guerrilheiro africano, mas sim por um grupo de inergumenos de skins, à porta de um qualquer bar neste País.
A mãe!?... Essa deixou-se levar pelo amor que tem ao filho e acabou por ser detida e acusada de vender a sua própria dignidade, correndo ainda o risco de ser repatriada por não estar legalizada.
Por momentos julguei-me em Africa. Mas foi só por momentos, porque logo de seguida senti vergonha por ser Português e estar em Portugal.